BC – Você é ativista da amamentação?

11 agosto 2012

Dando continuidade às comemorações da SMAM 2012, a Matrice também participa da blogagem coletiva, proposta pelo blog Desabafo de Mãe.

E vou relatar uma situação especial que aconteceu HOJE, durante nosso encontro semanal pra falar de aleitamento materno na Casa do Brincar.

Nós da Matrice nos revesamos para acompanhar os encontros, temos uma escala de datas, assim esse nosso [delicioso] trabalho voluntário não “pesa” para nenhuma de nós! Hoje, por uma falha de comunicação, ocorreu um desencontro entre a gente e só quase no fim da reunião é que eu consegui chegar para falar com todo mundo. No caminho, aflita, fui pensando nas mulheres sozinhas na sala, com seus bebezinhos, esperando por uma de nós. Mas conforme eu ia chegando (e meu trajeto demora apenas 15 minutos), fui relaxando e confiando. Ora, a proposta das reuniões é exatamente essa: um grupo de mulheres dando APOIO a outras mulheres! Apenas isso!! Nós da Matrice atuamos como facilitadoras nesse momento mas, no fundo, no fundo, a gente é apenas mais uma mãe dando apoio!

Gosto de pensar assim: eu sou apenas uma engrenagem nesse maravilhoso mundo da amamentação, onde se acolhe com amor, com informação real, com simplicidade, com apoio, com calma, com fé, com perseverança, com olho-no-olho, sem interesses comerciais, sem pressa, sem tabelas ou gráficos preestabelecidos, todas as mães e seus valiosos bebês!

Houve um tempo que esse jeito de ser era parte da vivência de toda mulher. Hoje é considerado “ativismo”. Que seja, pois, ativismo, não me importa! Importa o bebê dormindo relaxado no colo de sua mãe, o relato (com um enorme sorriso nos lábios) da mulher que largou o complemento, os ombros agora relaxados onde antes eram tensos, o riso (e até mesmo as lágrimas!) que levamos na memória, e a certeza de que o mundo é um pouco melhor por conta desses encontros. Eu saio com a fé renovada na humanidade! Se cada uma de nós pode fazer a diferença na vida de um bebezinho, porque se incomodar em ser chamada de “ativista”?

EU SOU ATIVISTA DA AMAMENTAÇÃO!


Mamaço na Paulista ontem

13 maio 2011

Uma mãe é questionada quando começou a amamentar seu bebê de 3 meses, no meio de um Centro Cultural, na avenida mais importante e famosa da nossa cidade, a maior cidade do nosso país! Sob o argumento de que ela não deveria alimentar seu bebê ali, foi conduzida a um “cantinho”, longe dos olhares “incomodados” das “pessoas de bem”… Essa moça se sentiu indignada com esse tratamento, queixou-se no Facebook, a história se espalhou e muitas e muitas mulheres (e seus bebês fofos) se encontraram ontem no Itau Cultural, em plena Avenida Paulista, para um “mamaço” coletivo!

Porque será que amamentar ainda incomoda tanta gente? Num país que transmite para o mundo todo imagens do nosso carnaval tão livre, ou que aceita biquinis tão minúsculos em nossas praias ensolaradas, muita gente aqui ainda acha feio, inapropriado, exibicionismo, amamentar em público…

A tarde foi agradável, o pessoal do Itau Cultural percebeu o equívoco na hora e acolheu todo mundo, a mída toda acompanhou, a amamentação pôde ser divulgada como, de fato, é: natural, necessária, livre de preconceitos.

A Matrice acompanhou o evento e parabeniza todos que apoiam a amamentação. APOIO é nossa palavra-chave!

Vejam links bacanas das reportagens feitas aqui, aqui e aqui.


apoio às obstetrizes!

25 março 2011

Mulherada!

Está na hora de a gente mostrar que está cansada de ter nosso corpo, nosso parto e o momento do nascimento de nossos filhos roubados…
Cabe a nós decidirmos que exames vamos fazer, e saber o porque…
Cabe a nós decidirmos quando e como iremos engravidar…
Em que posições queremos ficar, a quais procedimentos vamos nos submeter e saber o porque!
Queremos profissionais que não nos julguem pelas nossas atitudes e que pacientemente expliquem o que nos diz respeito.
Que esperem pela nossa hora de parir, o tempo que precisar, com segurança.
Que nos enxerguem como um ser único, que não hajam por conta de um protocolo, de uma rotina…
Que não tenham pressa, que reconheçam a transcendência do nascimento de um ser humano, de uma mulher como mãe, de um homem como pai e de uma família.
Amanhã, sábado (26 de março), vamos apoiar a formação de obstetrizes pela USP, no vão livre do Masp, às 10h.
Esse curso é único no Brasil e está ameaçado de extinção, forma profissionais especializados na assistência à mulher na gravidez, parto e pós-parto, no modelo seguido pelos países (Inglaterra, Canadá, Alemanha, entre muitos outros) onde a mulher é respeitada e onde encontramos as menores taxas de mortalidade materna e infantis.
Natalia Rea Monteiro, doula

Amanhã de manhã, com a participação da MATRICE,
estudantes, mães, gestantes, casais grávidos, mulheres, homens e crianças
ocuparão o vão central do MASP, na avenida Paulista, para manifestar seu apoio ao curso de Obstetrícia da USP Leste, que está sob ameaça de fechamento pela
administração da Universidade de São Paulo.

De acordo com a OMS, a Obstetriz com formação de nível superior representa boa
estratégia para promover atenção adequada ao parto e nascimento. Essa
profissional é capacitada para prestar assistência a gestações e partos de baixo risco e é bastante
solicitada em muitos países desenvolvidos. No Brasil, seu papel é ainda mais relevante, diante das elevadas taxas de morbi-mortalidade materna e neonatal.

Fechar o curso de Obstetrícia é um retrocesso e constitui desrespeito a toda a sociedade, na medida em que representa a manutenção do atual sistema de assistência, que apresenta elevada cobertura hospitalar, porém, resultados perinatais insatisfatórios.

Nesse sentido, a MATRICE, formada por mulheres usuárias do sistema de saúde no Brasil, diante do quadro alarmante de abuso de cesáreas e da assistência
desumanizada ao parto, acredita que a Obstetriz é a profissional adequada para realizar a assistência à gestação, ao parto e ao nascimento de baixo risco. Assim, a formação de Obstetrizes é uma inovação, no caminho da melhoria das condições da assistência obstétrica e neonatal de nosso país.

SERVICO
Manifestação pela manutenção do curso de Obstetrícia da USP Leste
Local: Vão central do MASP, Avenida Paulista, São Paulo-SP
Data: 26 de março, sábado
Horário: 10h da manhã
Contatos: Ana Cristina Duarte (11) 9806-7090 / Deborah Delage (11) 9201-5245


parto – nós apoiamos!

12 dezembro 2010


encontro especial – banco de leite

10 novembro 2010


É amanhã!

1 outubro 2010


Vale a pena persistir na amamentação?

21 setembro 2010

Mães que acreditam não ter leite suficiente devem checar outros fatores de desenvolvimento do bebê antes de correr para fórmulas

Renata Losso, especial para o iG São Paulo

Antes de pensar em escolher uma mamadeira para o filho, é comum as mães passarem por dificuldades e até mesmo angústias na hora da amamentação. Segundo o presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Luciano Borges Santiago, as queixas maternas mais frequentes em relação ao próprio leite é de que ele não satisfaz a criança: ou é fraco, ou a quantidade é pouca. Porém, de nada vale se desesperar e partir para as fórmulas substitutas do leite materno presentes no mercado: muitas destas queixas são, na verdade, equívocos.

De acordo com o especialista, essa sensação das mães é, na maioria das vezes, insegurança. E existem alguns fatores que colaboram para o receio feminino: “É normal que, no primeiro mês de amamentação, as mulheres sintam que o peito está bastante cheio e às vezes o bebê nem consegue mamar todo o leite produzido. Mas a partir do terceiro mês a produção de leite se estabiliza e não se acumula mais”. Neste momento, a interpretação das mães de que a produção está em baixa é tão errônea quanto achar que não tem leite nos primeiros dias da amamentação, quando o colostro, precursor do leite materno, é produzido.

O colostro possui uma aparência mais aguada e é produzido no pós-parto antes da descida do leite, que pode acontecer até 72 horas depois do nascimento do bebê. “Por ele ser parecido ao soro, muitas mulheres acreditam que o colostro não é suficiente para sustentar o bebê, mas ele é”, explica Marcus Renato de Carvalho, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e consultor em amamentação. Porém, a quantidade que sai do seio normalmente é pequena e facilmente as mães se desesperam, principalmente quando o bebê chora sem outra razão aparente que não a fome.

Porém, segundo Lucilia Santana Faria, pediatra do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, é preciso lembrar que, até aproximadamente os quatro meses de idade, os recém-nascidos possuem cólicas ocasionadas pela maturação do intestino que os fazem chorar bastante. “Normalmente elas acontecem entre o fim de tarde e o início da noite, então é comum que eles chorem neste horário”, explica ela. A vontade de usar o seio da mãe como chupeta também pode ser um dos motivos para o choro.

Por estar na fase oral, que acontece durante primeiro ano de vida e marca uma etapa do desenvolvimento onde o prazer e a experimentação da criança passam necessariamente pela boca, é possível que o bebê chore por apenas querer “chupetar” o seio da mãe, e não exatamente por estar com fome: “Se ele quiser estar no peito com menos de duas horas de intervalo da mamada anterior, é possível que este seja o problema, ou então a quantidade de leite não é o bastante mesmo”, orienta Lucilia. Segundo ela, existem diversas maneiras de descobrir se o leite produzido é o ideal para a criança, mas antes de procurar um substituto, procurar um profissional da área é imprescindível. Afinal, pode ser realmente que a produção de leite não seja a adequada.

De olho nos indícios

“Existem alguns fatores que podem influenciar na produção de leite, como por exemplo, a quantidade de líquido que a mãe toma”, explica Lucilia. Segundo ela, a mulher que está amamentando deve tomar bastante água, suco ou leite, para que o leite seja suficiente. Além disso, estresse e baixa auto-estima podem fazer com que o aleitamento não ocorra de forma esperada. Isso acontece porque, de acordo com Carvalho, a amamentação é um hábito psicossomático – ou seja, se refere não só ao lado orgânico, mas também ao psíquico, da mãe. Por isso, quanto melhor a mulher estiver consigo mesma, melhor para a alimentação do bebê. E quanto mais atenta estiver, também.

A amamentação não é um processo que ocorre de maneira automática e é preciso se preparar para ela. A começar pela maneira que o bebê deve encontrar a mama: sem se restringir apenas ao bico, mas sim à aréola mamária. Além disso, ele deve manter o queixo bem encostado ao peito. Para Carvalho, ainda, é preciso que o bebê mame nos dois peitos cada vez que for se alimentar. “É preciso também lembrar que o último seio utilizado em uma mamada deve ser o primeiro da seguinte”, completa.

Para ele, a quantidade de fraldas trocadas por dia também pode ser um parâmetro para que as mães não se desesperem à toa. “Se o bebê utiliza seis ou mais fraldas por dia, significa que ele está mamando bem”, explica. De acordo com os três especialistas, acompanhar o desenvolvimento do peso da criança é mais uma boa forma de saber se a quantidade de leite está suprindo a necessidade do bebê. Se ele estiver ganhando entre 20 e 40 gramas por dia – aproximadamente 700 gramas por mês –, então não há motivos para preocupação.

Na companhia da balança

Foto: Edu Cesar/Fotoarena

Fabiola Cassab e Paola, de cinco anos: persistência deu certo

O caso da advogada Fabiola Cassab, de 33 anos mostra a necessidade de procurar um pediatra capacitado em amamentação ou especialistas daRede Brasileira de Bancos de Leite Humano para que não haja controvérsias. Fundadora da Matrice, grupo de apoio à amamentação de São Paulo, Fabiola passou por sete pediatras antes de encontrar um especialista que realmente lhe ajudasse na amamentação – e não apenas lhe dissesse que seria necessário complementar a amamentação por não produzir leite o suficiente para a filha Paola, hoje com cinco anos.

“Para mim era muito importante dar de mamar para a minha filha e ter que usar uma fórmula artificial fazia com que eu me sentisse uma deficiente. Tanto que continuei procurando uma solução”, conta Fabiola. E a encontrou. Depois de passar por tantos pediatras, procurou um que era realmente experiente no quesito amamentação. E deu certo: “Todos colocavam a Paola na balança e se prendiam apenas ao peso dela, mas aquele que realmente entendia analisava todo o histórico de desenvolvimento compatível para a idade”.

Fabiola afirma que a análise da curva de crescimento de Paola pesava na hora dos médicos chegarem a um veredicto. Segundo ela, o drama do ganho de peso insatisfatório é um dos principais vividos pelas mães no período de amamentação. Mas o que nenhum doutor considerava era a altura da mãe: 1,56 metro. “É claro que minha filha não ia engordar o mesmo tanto: nossa natureza é menor do que a colocada na tabela” relembra.

Insistente, Fabiola conta que no primeiro mês após o nascimento de Paola usou uma das fórmulas artificiais presentes no mercado para complementar o aleitamento materno, mas após descobrir que não era necessário, cortou o ingrediente rapidamente do dia a dia da filha. Lucilia Faria lembra que até mesmo uma gota que seja do leite materno já vale a pena: “Ele é sempre o melhor e o mais adequado para o filho”.

Insistência em primeiro lugar

Mas na hora da choradeira do bebê e do desespero da mãe por não saber o que fazer, a pediatra indica, em último caso – se não for possível encontrar o pediatra ou um banco de leite no mesmo momento – dar o “leite maternizado” sem excessos. “Nesses casos de extrema necessidade, coloque o bebê para mamar no peito, mesmo que não tenha leite, e depois dê a fórmula com uma colher bem pequena ou um copinho”, indica a especialista. A tática evita que o bebê se acostume à mamadeira e, mais tarde, não queira mais pegar o peito.

Se houver realmente pouco leite por mais tempo do que o esperado, ela indica o uso de bicos ortodônticos de mamadeira que mimetizam bem o seio materno, exigindo mais força para a sucção.
Mas nada como persistir no aleitamento materno para que o leite não deixe as crianças na mão: quanto mais o nenê suga do seio da mãe, mais leite é produzido. “A sucção da criança é o que estimula o cérebro a produzir o leite”, diz Faria. Quando a mamadeira tradicional entra no jogo, portanto, é comum que a mama diminua a produção e a criança fique mais preguiçosa, o que pode aumentar as dificuldades da amamentação –indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como fonte de alimentação exclusiva dos bebês até os seis meses, e fonte de alimento complementar até os dois anos de idade da criança.

Para Fabiola, a insistência funcionou perfeitamente. A advogada iniciou o desmame da filha por volta da chegada dela aos três anos de idade, mas até hoje, dois anos depois, Paola tira proveito dos benefícios do leite materno. “Ela come todos os outros alimentos, claro, mas vira e mexe ela pede antes de dormir ou logo ao acordar. É uma opção que dou a ela”, conta Fabiola, orgulhosa pelo sucesso do aleitamento materno.


SMAM 2010 – Sexualidade e maternidade recente

3 agosto 2010

Sabemos que o corpo demora a se reacomodar depois da gravidez e do parto… mas acreditamos que logo tudo voltará a “ser como antes”.  A maior surpresa surge quando o desejo sexual não aparece como estávamos acostumadas. (…)  Tomamos a decisão intelectual de responder às demandas lógicas do companheiro, de satisfazê-lo e de reencontrá-lo. Mas não funciona (…)   Acredito que existe uma luta cultural entre o que todos acreditam que é certo e o que acontece conosco. (…)  Todas as mulheres desejam abraços prolongados, beijos apaixonados, massagens nas costas, conversas, olhares, calor e disponibilidade do homem (…) Nessas ocasiões, desconfiamos que o sexo é sagrado e sensual: acontece quando uma brisa percorre o corpo físico, produzida por um beijo, uma palavra de amor, uma piada, um olhar cheio de desejo (…)

Texto completo em pdf: sexualidade e maternidade recente

Laura Gutman é terapeuta e escritora argentina, estudiosa dessa relação mãe-bebê-pai e demais temas relacionados. Seus textos são muito interessantes e tivemos sua autorização para traduzir e distribuir um deles, intitulado “Sexualidad y maternidad reciente” no ENAM – Santos, em junho úlitmo. Clique no link acima e leia a íntegra do texto em português, com tradução da querida Ana Patricia de Moura e Souza. Boa leitura!


APRENDER A SER PAIS

11 abril 2009

aprendendo-a-ser-pais

Quando decidimos ter filhos sentimos muitas esperanças e muita ilusão, imaginando a maravilha e o milagre que é trazer ao mundo um novo ser. Frequentemente pensamos que sabemos tudo o que é necessário e que podemos confiar em nossos instintos. Este sentimento de que tudo será perfeito é comum à maioria dos pais de primeira viagem. Também é certo que logo nos sentimos muito ansiosos pela responsabilidade, pelo desajeito, por nos sentirmos incapazes de compreender o que acontece com este ser tão pequeno quando a única coisa que ele sabe fazer é chorar, quando algo o incomoda. Desejamos que o tempo passe e que o bebê já comece a falar para que possa comunicar o que lhe dói e o que necessita. Quando a criança já cresceu um pouco, e surgem outras dificuldades, novamente pensamos que quando cresça um pouco mais tudo será mais fácil. E assim seguimos, esperando que chegue o momento em que não nos angustiemos com nosso filho.

Mas a experiência demonstra que o filho será nosso filho até o fim de nossos dias, e seguiremos com as angústias e incapacidades porque não fomos educados nem treinados para ser mãe e pai. Nos vemos sem ferramentas para essa grande tarefa e nos cabe improvisar, inventar e aprender a ser pais. Nos esquecemos de como nos sentíamos quando fomos crianças e trazemos dentro de nós mesmos sistemas de idéias e crenças com as quais queremos nos impor como autoridade frente aos filhos.

Muitas vezes, nós pais nos esquecemos de observar aos filhos com cuidado e descobrir a magia da comunicação através de uma escuta atenta, do carinho, do olhar nos olhos, vendo a profundidade do ser, reconhecendo quão diferente é essa pessoa que temos diante de nós, apesar de ser nosso próprio filho. Os filhos necessitam perceber e sentir que durante a infância os pais estão presentes vendo suas necessidades, sendo capazes de cuidá-los e guiá-los enquanto não sabem para onde ir. Sabendo também que “o autoritarismo esmaga e a permissividade afoga”. Os filhos necessitam de uma atitude firme e respeitosa que lhes permita confiar na capacidade de seus pais para dirigir suas vidas enquanto são pequenos. Os pais caminham adiante os orientando, mas não carregando os filhos em suas costas e sendo escravos de seus desejos.

Às vezes escolhemos a opção de sermos muito permissivos, esquecendo-nos de colocar limites e dar referências claras, pensamos que o melhor é ser “amigo” do filho, imaginando que assim estaremos mais perto dele. E na verdade o filho necessita de uma mãe e de um pai como referências claras que lhe dêem apoio e que lhe confrontem com a realidade. Amigos ele já encontrará na vida por si mesmo. Na nova geração de pais, com o desejo de não repetir os erros e abusos de seus progenitores, alguns são muito compreensivos com seus filhos e lhes dedicam toda sua atenção, porém ao mesmo tempo se mostram fracos e inseguros para ocupar a posição hierárquica que lhes corresponde, incapazes de respeitar-se a si mesmos e de fazer valer suas necessidades frente aos desejos dos filhos.

Outros pais, envolvidos demais com suas profissões e seu trabalho não têm tempo para os filhos, são pais ausentes que tentam compensar essa falta de presença e atenção com presentes, dinheiro e um excesso de permissividade. Os filhos crescem com muita solidão e liberdade, porém com falta de referências e de contato afetivo e humano. As dificuldades na relação com os filhos, às vezes, tem a ver com sentimentos ocultos, não expressados nem reconhecidos, com falhas de comunicação entre o casal e com mensagens contraditórias que a mãe e o pai dão aos filhos. O pai e a mãe terão que perceber quão importante é a unanimidade de critérios dentro do casal frente aos filhos para que estes possam crescer equilibrados e confiantes. Por isso, mães e pais necessitam ter espaços de reflexão para explorar as dificuldades e encontrar alternativas para exercer uma maternidade e uma paternidade desde o coração, apoiados por uma razão flexível e ampla, buscando transformar o lar em um lugar aonde o filho possa sentir-se amado, compreendido e com possibilidades de desenvolver seu potencial. Os pais necessitam ver suas limitações, desconectar-se da culpa e conectar-se consigo e com sua capacidade amorosa e respeitosa frente aos filhos. A experiência nos tem demonstrado o quanto os pais estão buscando formas de comunicar-se com seus filhos, porém se perdem em seus próprios sistemas de idéias pré-concebidas desde sua família de origem.

Eles crescem com muitos ideais e esperanças de formar sua família com bases diferentes (em geral opostas) daquilo que viveram em sua infância e adolescência. Percebem muito rapidamente suas limitações e incapacidades, ainda que tentando manter o papel de pais. Se perdem com frequência justamente quando repetem (consciente ou inconscientemente) aquilo mesmo que lhes havia tolhido a espontaneidade e expressividade genuína em seu próprio desenvolvimento. Essa cadeia se perpetua de alguma forma de geração em geração. Estamos em um momento crítico a nível mundial, em que o poder de poucos gera violência, tensão, desconexão, impotência e isolamento na maior parte da humanidade. Para que nossos filhos tenham a possibilidade de romper esse “status quo” é muito importante que nós, como pais, possamos questionar nossos valores e idéias condicionadas, permitindo-nos abrir o coração com humildade e sinceridade, dando assim o exemplo que as crianças e jovens de hoje necessitam para crescer conectados com a força e verdade intrínseca que lhes permita transformar a atual realidade destrutiva.

Além da relação entre pais e filhos ocorre um fator cada vez mais frequente que é a separação dos pais, estes constituindo outras famílias. Essa situação influi muito no desenvolvimento dos filhos, pois a separação dos pais já é em si mesma algo que provoca muitas dificuldades para todos envolvidos. Por um lado estão os pais com seus conflitos, gerando mensagens contraditórias aos filhos, por outro lado a culpa e o desejo de compensá-los gera confusão em muitos níveis. Quando entram novos parceiros e novos filhos (seja do novo companheiro ou meio-irmãos) as crianças (e/ou adolescentes) da família original necessitam adaptar-se à nova situação, e raramente têm espaço, tempo ou capacidade de compreender a enorme gama de emoções que aparecem. Se vêem obrigados a viver a nova situação, gerando uma avalanche de problemas e dificuldades que, geralmente, não são levados em conta, a não ser superficialmente ou apenas em torno aos sintomas que surgem. O tema da relação pais e filhos é complexo e ao mesmo tempo fundamental para que a nova geração encontre possibilidades reais de transformação e evolução.

Suzana Stroke (transcrição da introdução de um workshop para pais em Interser Gestalt, Madrid, 2006

imagem aqui


novo encontro!

11 março 2009

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